sexta-feira, agosto 28, 2009

Capitu

Na escola, em um dia nada especial, ela brincava, sonhando com seus ídolos e prestando atenção na aula nos intervalos que sua imaginação lhe dava. E sem fazer nada de especial, ela atraiu o olhar dele.

Ele era, havia nascido assim, um romântico por natureza - embora não admitisse. Gostava de livros e filmes que se chora no meio e no fim. E em todos eles, ele a colocava no papel principal, nos quais o mocinho era ele, claro. Como ela não era a bobinha que vocês devem estar pensando, Capitu era a personagem que ele mais gostava de imaginá-la - a personagem feminina mais complexa e melhor escrita da literatura mundial, um verdadeiro elogio. E ele tinha que se contentar em ser o Bentinho, sempre odiado por muitos, discutido por muitos, mal compreendido por muitos. Ela, no entanto, nem imaginava que fosse alvo de tamanha imaginação.

E assim ele viveu. A imaginando sempre. Conversando, saindo com ela, lhe acariciando os cabelos.

Enquanto isso, ela vivia: namorava, chorava, cantava, bebia. Até que um dia, anos depois do dia nada especial, aconteceu. Ele reuniu a coragem necessária e lhe disse tudo o que estava na garganta e no coração. Sem reação, ela o abraçou. Pensou e sorriu.

Hoje ela imagina o Oliveira todo o tempo. E ele a Capitu.

sexta-feira, agosto 21, 2009

“Tomando café e bisbilhotando a chuvinha cinzenta lá fora”

Esses dias tem feito um clima muito gostoso para quem não trabalha ou acorda cedo: uma chuvinha preguiçosa e um frio que só me faz desejar meu edredom. Dou graças a Deus por não ser católica: todos os dias cometo o pecado da preguiça. Às vezes, lembro aquela música que a Eliana cantava todas as manhãs: “Xô, preguiça! Xô, preguiça! Se ela quiser te pegar, xô, preguiça!”. Mas nem adianta mais. Tentei o despertador do celular; mas nem escuto o toque. Um dia, desesperada, enfiei o celular no armário para ver se a distância entre meu braço, o celular e os meus tímpanos me faria acordar. Levantei meio zumbi, desliguei o celular e voltei a dormir.

Estava vendo o seriado o Dr. House M.D. e vi que as pessoas nos EUA acordam às nove horas. Morri de inveja. As pessoas no nosso país acordam às seis, às vezes até às cinco horas da manhã para poderem pegar o trânsito e chegar ao escritório às oito.

Pra quê? A maioria das pessoas trabalha, no máximo, quatro horas, das oito diárias. Portanto, por que as empresas gastam com: internet, telefone, café, luz, água, sabonete, papel, tinta de impressora se metade do tempo de seus funcionários não é produtivo? E se as pessoas pudessem escolher: das oito ao meio dia ou das duas às seis? O trânsito ficaria melhor, as pessoas poderiam gastar mais com lazer, fariam cursos para se aperfeiçoar e se sentiriam mais dispostas e felizes.

Minha mãe trabalhava numa grande empresa do outro lado da cidade e demorava quatro horas para chegar na firma. Voltava a tempo suficiente de fazer o jantar (as multi funções da mulher eu comento outro dia) e apagava de sono. É assim mesmo que queremos nossa vida? Metade perdida em fumaça e barulho do tráfego com sono? Sempre pensei que o emprego deve ser a realização da sua vida, lhe dar prazer e felicidade.Odiava me imaginar indo toda sonolenta para um emprego chato, com reuniões intermináveis e horas desperdiçadas lendo correntes em emails.

Por isso, fico imensamente feliz em ter me mudado para o interior, passado num curso noturno, e ter a possibilidade de trabalhar online, a qualquer hora do dia, sem precisar sair de casa. Então, olho a chuvinha cinzenta lá fora, vejo que ainda são dez horas e volto para o meu edredom quentinho.

A frase título desse post é uma frase que o Alexandre Inagaki postou no twitter uns dias atrás. Visitem! e @inagaki
ps: Eu o agradeci pela inspiração via twitter e ele foi extremamente simpático! Fiquei muito feliz mesmo! Obrigada, Alexandre!

terça-feira, agosto 18, 2009

Ana

Ana era sonhadora desde que nasceu, mas odiava admitir esse fato. Quando estava sozinha começava a imaginar como gostaria que sua vida tivesse sido e que viria a ser. Desde pequena não dava muita importância em ter que cuidar da sua vó doente ou de ter que fazer a lição de casa antes de comer a sobremesa. Porque quando fazia essas coisas, estava pensando no que ela mais gostava: no dia do seu casamento. Quando aprendeu a cozinhar foi pior: fazia bolos deliciosos para o seu marido imaginário. Na véspera do seu aniversário de quinze anos sonhou que dançava valsa com o seu marido.


Depois, quando passou em medicina no vestibular, desejou poder abraçar e comemorar com “ele”. Na faculdade, nos seus raros momentos completamente sozinha, chegava a pensar que estava ficando louca e que era um absurdo ter 24 anos e ainda ter um “amiguinho imaginário”. Porque era isso que ele era: um amigo imaginário. Ele tinha mudado de cara muitas vezes: durante alguns anos ele era parecido com um rapaz da sala dela, só que mais alto; depois, ficou com a cara de um ator famoso; depois de um homem por quem ela foi apaixonada durante toda a faculdade. Depois de um tempo, ele deixou de ter um rosto, era um ser disforme, era um “marido-idéia”.


Não que ela nunca tivesse se apaixonado por alguém de carne e osso. Já namorara muitas vezes, e nessas épocas “ele” ganhava o rosto do namorado. Como era ingênua, acreditava que havia encontrado o cara certo, já que “Ele” tinha um rosto agora. Quando o namoro acabava, Ana chorava, chorava até um dia “ele” ressurgir, diferente; se o ex era loiro, “ele” era moreno, e vice-versa. Não importava, ele era diferente sempre. Aos poucos “ele” ia consolando Ana, lhe dizendo para esquecer aquele rapaz que a estava fazendo sofrer, que “ele” era apaixonado por ela de verdade; que apenas “ele” poderia fazê-la feliz. E logo Ana esquecia tudo e voltava para o seu mundo de fantasias.


No trabalho, enquanto medicava um paciente ficava no mundo das nuvens, sonhando com o momento em que ele aparecia de médico, claro, e diria que era novo ali, que precisava de uma ajuda porque não conhecia bem o hospital, não conhecia totalmente a ala da oncologia (ele sempre era oncologista) e ela lhe sorria e dizia que ele estava na ala errada, ela era chefe do departamento de geriatria, mas que depois do paciente ela o levaria para a ala correta. Ele perguntava se ela gostaria de almoçar com ele e namorariam. Apenas quando o seu estômago roncava, ela percebia que ele não havia aparecido – já que não existia – e ela teria que almoçar sozinha novamente.


Mas a vida não é como nós esperamos. Ela passou anos sozinha, saindo com amigos, e conhecendo caras que não eram nada do que ela esperava. Um dia, Ana se apaixonou. Não por um oncologista, mas por um pediatra. Noivaram, casaram e em três anos ela teve sua filha. Porém, em uma noite comum, quando já tinha posto sua filha para dormir, passou seus cremes, pôs um pijama e se deitou ao lado do seu marido, sentiu outra presença no quarto. “Ele” aparecia sem rosto, apenas um sorriso e se sentou ao lado dela.


Ela nada disse. Tampouco conseguiu dormir. Uma semana depois, pediu o divórcio. O marido nada entendeu. Ela se sentia péssima, não suportava mais essa situação. Estava traindo o marido com ela mesma. Se separaram e ela continuou sonhando com “ele”. Morreu velhinha, sozinha e feliz. Tinha encontrado sua alma gêmea: ela mesma.

terça-feira, agosto 11, 2009

É proibido fumar

Entrou em vigor a lei que proíbe o fumo e qualquer tipo de fumaça em lugares fechados no Estado de São Paulo. Quem mais se manifestaram foram os fumantes, então não irei fazer um texto longo, primeiro porque o tema não precisa de introdução, segundo porque contra leis não há argumentos, mas apenas irei expor meus pontos de vista não somente sobre a lei em si, mas das suas conseqüências.

Quando a lei seca entrou em vigor, muitas pessoas reclamaram, afinal, ninguém mais poderia sair e voltar bêbado para casa. Argumento irrefutável dado pelo governo foi de que o trânsito é o que mais mata no Brasil. E o álcool é o catalisador da maioria dos acidentes. O resultado é bem visível: 35% menos mortes no trânsito até agora. Parabéns ao governo que tomou uma medida necessária.

Já a lei anti-fumo não sou contra, como a maioria já deve estar pensando. Só acredito que veio de forma muito, mas muito errada. O cigarro é uma droga legal, portanto, proibir seu consumo é paradoxal. Quando o governo proibiu a propaganda de cigarros em todos os veículos no século passado, foi uma polêmica também, mas os jovens de hoje não são tão influenciados por essa “indústria para suicidas” como foram os da década de 80 e do início da de 90. Dessa forma, não precisava de lei nenhuma, aos poucos, o cigarro ia sumindo, já que o governo também aumentou - e muito - o preço do dito cujo.

Posso estar sendo meio “atrasada” já que países de primeiro mundo a adotaram. Mas, desde quando o Brasil pertence a esse grupo? O que eu não concordo, de forma alguma, é a publicidade que a lei está ganhando, a quantidade de fiscais procurando bitucas, os cartazes e os comerciais na televisão. O gasto que o governo está tendo é muito maior do que ele próprio já gastou com os cânceres de pulmão dos fumantes passivos - já que o Serra diz que não é contra os fumantes, mas deseja preservar a saúde de quem trabalha à noite – e nunca vi um fumante passivo processar uma indústria tabagista.

Sem concluir nada, mas dizendo o meu ponto de vista, acredito que o Brasil ainda tenha muitos problemas de terceiro mundo que sabemos de cor: saúde, educação, transporte, ambiente... E, sinceramente, todo esse circo para evitar cabelo fedendo a cigarro, narguiles e incensos em baladas é um pouco demais.

domingo, agosto 09, 2009

De como eu seria muito mais feia (ou da vaidade)

Faço curso de Humanas, mas odeio socialistinhas. Para dizer bem a verdade, nunca encontrei um de fato na Unesp. Mesmo assim, todos do campus fazemos questão de dizer que odiamos socialistas. Cada um tem o seu motivo, óbvio. Mas os meus são, no mínimo, superficiais. Digo para todos que não sou socialista porque me sentiria completamente mal em ir a uma festa e ter mais de uma mulher com a mesma roupa que eu. Eu sei que em Cuba não existe apenas uma marca de roupa, mas está mais do que claro que o ramo da estética não é nem sequer citado quando o assunto é socialismo. E graças a Deus, eu sou capitalista. Senão seria, muito, mas muito feia mesmo. E sempre penso isso quando saio do salão de cabeleireiro.

Não sou do tipo vaidosa que se perceba, daquelas que estão sempre impecáveis. Muitos dizem até que eu sou fuleira, que nunca me arrumo, e, devo concordar com eles. Não me arrumo mesmo. A verdade é que eu não vejo muitos motivos para ir para a faculdade como quem vai ao teatro. Geralmente vou de tênis, regata e jeans, como disse no post anterior.

Mas me considero vaidosa sim. Não posso ver catálogo de cosméticos que fico doida para comprar - minha linha de maquiagem preferida é uma difícil de achar e que só vende mesmo nos EUA. Entro numa perfumaria e me mato de tanto prazer em ver as novidades em cremes e loções.

Explicarei-me melhor. Todo dia, lavo o meu rosto três vezes: quando acordo, com um gel de limpeza refrescante, quando tomo banho, com um sabonete apropriado para o rosto e antes de dormir, com um demaquilante e um sabonete. Passo protetor solar, e jamais espremo uma espinha, apenas passo cremes que a secam. Faço clareamento nos dentes a cada seis meses, tenho seis diferentes cremes que passo duas vezes por dia, depois dos banhos. Um para o rosto durante o dia, um para a noite, um para o corpo, um para as mãos, um para acabar a celulite outro para firmar a pele. Faço uma vez por semana, na minha casa, hidratação nos cabelos e limpeza de pele com produtos bem carinhos, nada de potão de um litro por cinco reais, baby. Além disso, faço as unhas dos pés e das mãos uma vez por semana e me depilo, com cera e de forma bem dolorida a cada quinze dias. Acredito que isso me torne bem vaidosa, certo?

E mesmo assim, continuo feia como o diabo. É nessas horas que eu penso: “Deus, e se eu tivesse nascido na mesma época que minha vó? Ou na Rússia?”

Teria virado uma freira bem feia, certeza.

Mas mesmo assim, corto franjas assimétricas e compro esmaltes e batons da estação!!! Ui!

quarta-feira, agosto 05, 2009

Da moda

Como eu disse no post anterior, esse daqui é sobre algo que eu não entendo: a moda. Tudo o que é tendência hoje é o que era moda há exatos vinte anos. Repaginados, é claro e com um toque mais moderno. Quem tem uma mãe mais velha que guarda tudo, tá feito. É só fuçar no baú dela que irá encontrar muitas peças - chaves no “guarda roupa de qualquer mulher atual”. Como eu disse no post anterior, eu sou brega. Com orgulho. Acredito que um jeans, um par de tênis e uma regata lisa e escura sirvam bem em qualquer situação.

Todo mundo já teve suas fases. Até meus dezessete, eu era bruxa. Sim, dessas de esmalte preto, cabelo comprido, roupa preta, tênis preto, sombra preta... Enfim, quase uma gótica. Meu sonho era pintar meu cabelo de roxo. Isso quando o roxo nem sonhava em entrar na moda, quando ainda era sinônimo de funeral. Depois virei metaleira, somente ouvia bandas com pedal duplo e continuava usando só preto. Mas dessa vez, as camisetas ganharam estampas de discos das minhas bandas favoritas. E aposentei de vez o colar de pentagrama.

Passei no vestibular e tive que me mudar para o inferno, digo, interior. Não traí o movimento dos metaleiros do mal, mas, depois de uns meses suando bicas, optei por um visual que eu sempre quis ter mas a umidade e o frio da capital me impediam: peguei minhas saias e vestidos indianos e fui às ruas bauruenses sem medo de ser feliz.

Atualmente, continuo usando somente roupas lisas, escuras e largas. Me sinto bem assim. Mas confesso que comprei um allstar e comprarei um casaco xadrez para combinar com umas blusinhas listradas que eu comprei. Sim. Xadrez e listras.

O que eu não entendo é: por que tu, ó moda implacável, não nos aceita do jeito que somos? O que me incomoda de verdade é que se você é alto, tem que usar roupas que diminuam o seu tamanho para você não parecer uma girafa. Se você é baixo, abuse de listras verticais para alongar a silhueta. Se você tem seios grandes, não use decotes nunca. Pequenos, abuse de tudo que chame a atenção para o seu colo. Para pernas finas saias, vestidos e shortinhos agarrados para valorizar as pernas de saracura. Já as coxas grossas e definidas são escondidas em roupas largas e escuras para não vulgarizar.

Portanto: antes mesmo de você se sentir bem, saiba que a moda não gosta de você como é. Vista-se para que todos pensem que você é o oposto do que é de fato. Ai todo mundo vai olhar para você, dizer que é bem vestido e daí sim, com a aprovação geral, você se olha no espelho e começa a se sentir bem. E isso eu ainda não entendo.